Ócios do ofício

Nós poetas, escrivinhadores
somos bons observadores, gostamos de criticar.

Depois do rascunho pronto, entretanto, é preciso publicar.
Uma última revisão, para não decepcionar.

Feito isso, tudo pronto, é preciso esperar
algum leitor que tenha vontade
de admirar aquela obra fácil de declamar.

A mocinha, ao ler e lembrar do seu amado, deixa uma lágrima derramar.
E nesse ciclo vicioso, nesse vício do ofício é que o escrivinhador escreve a sua dor,
sem pensar se alguém, ao menos, vai nela reparar.

O que está faltando?

o que anda faltando à minha volta?
sinceridade, coragem.
coragem de assumir quem é, o que pensa, com sinceridade.
está faltando verdade.
está sobrando medo, insegurança.
falta consideração.
sobra vergonha e medo de ser feliz.
ser feliz não é pecado.
ser feliz sozinho ou acompanhado.
sem ficar regulando sentimentos,
pra não te chamarem de viado.
é, é isso. Sentimento é coisa de viado, do passado.
tô achando é que está tudo errado.
de baixo pra cima.
tudo virado.

ilegal

dia desses, arruinada
peguei papel e tinta pra desenhar meu mapa astral
fui seguindo linhas tortas

e pelas ruas estreitas, fui parar na marginal
marginalizada, encontrei-me num belo baixo astral
fluindo com a corrente

acorrentada, mais uma sobrevivente
numa condição ilegal

naquele mar sem fim, contava as estrelas
tomando cuidado para não apontá-las

e desapontada fiquei ali
esperando a onda certa
me levar até o final
Estava na corda bamba
milimetrava meus passos
descalça, sentia tontura por caminhar tão no alto
Nem um guarda-chuva pra me proteger
Daquela conversa que pretendia colocar os pingos nos is

Fiz malabarismos, testei o salto mortal
andei no globo da morte
e num pulo desconsertado, sem igual
caí na sua rede

foi sensacional

Pelas costas

Com um nó na garganta eu prendo meu choro O seu nó na gravata eu já não dou mais De tristeza, retorce meu estômago Por que você torce co...