soco no estômago

pelo meu aparelho digestivo passa algo indigesto
meu aparelho auditivo, mesmo sendo no ouvido
não me deixa enxergar um gesto

há um fluxo do refluxo
que faz correr o sulco pro lado errado

de um lado ou de outro, pelo meu reflexo
só ouço aquilo que parece convexo

e me convenso de que a cena não era aquela,
que a menina da favela poderia ser artista de novela

novelo enrolado como um grande espaguete
passa embolando toda a minha mente

que não mente, pelo menos pra mim
somente assim, a bala de menta derrete até o fim

Pré-fabricada

Vou fazer uma plástica
Pra parecer mais jovem
É uma tática pra enganar qualquer homem
Vou encher meu peitos
e deixar os machos mais satisfeitos
Vou afinar o nariz
pra ficar bem feliz

E uma lipoaspiração, pra eu nunca mais prender a respiração
Minha idéia é não causar decepção
naquele momento incômodo
de mostrar o popozão
quando se tem que tomar uma baita injeção

E também tem outra vantagem
Depois de bem fabricada
Dá mais coragem de sair pelada
na revista da coelhinha sem precisar de tanto photoshop

O ruim mesmo é quando ficar velhinha
Não tem serra, nem faca
que vá esconder aquela gordurinha

Indecisão

O que eu queria mesmo era ter um aparelho de teletransporte pra estar onde eu quisesse, sem trânsito, sem demora. Como se fosse um GPS, eu escolheria o lugar e pumba, caía nele em um segundo. Fora o risco zero de ser assaltada no meio do caminho.

O que eu queria mesmo era ganhar na loteria pra ter tudo o que eu quisesse, viajar pra qualquer lugar, sem ter pressa de chegar ou voltar, e só viver a vida pra aproveitar. Só que rico corre risco de ser assaltado.

O que eu queria mesmo era não fazer nada, ser hippie e viver numa comunidade alternativa, usando roupas de algodão e plantando alimentos orgânicos.

O que eu queria mesmo era ser cientista, descobrir as fórmulas mais insanas, transformar pedra em ouro e inventar engenhocas, ora úteis ora só divertidas.

O que eu queria mesmo era ser artista, pra multiplicar todos os meus eus e não ter vergonha de nada, fazer macaquices sem nenhum acanho e chorar só de mentirinha.

O que eu queria mesmo era fazer uma viagem à lua pra escorregar nos seus buracos e flutuar na superfície, só pra ver como a terra é quando fica lá embaixo.

O que eu queria mesmo era ser assim bem simples e rebuscada, bem quieta e abusada, bem louca e controlada e por fim me lambusar de tanta marmelada.

Ócios do ofício

Nós poetas, escrivinhadores
somos bons observadores, gostamos de criticar.

Depois do rascunho pronto, entretanto, é preciso publicar.
Uma última revisão, para não decepcionar.

Feito isso, tudo pronto, é preciso esperar
algum leitor que tenha vontade
de admirar aquela obra fácil de declamar.

A mocinha, ao ler e lembrar do seu amado, deixa uma lágrima derramar.
E nesse ciclo vicioso, nesse vício do ofício é que o escrivinhador escreve a sua dor,
sem pensar se alguém, ao menos, vai nela reparar.

O que está faltando?

o que anda faltando à minha volta?
sinceridade, coragem.
coragem de assumir quem é, o que pensa, com sinceridade.
está faltando verdade.
está sobrando medo, insegurança.
falta consideração.
sobra vergonha e medo de ser feliz.
ser feliz não é pecado.
ser feliz sozinho ou acompanhado.
sem ficar regulando sentimentos,
pra não te chamarem de viado.
é, é isso. Sentimento é coisa de viado, do passado.
tô achando é que está tudo errado.
de baixo pra cima.
tudo virado.

ilegal

dia desses, arruinada
peguei papel e tinta pra desenhar meu mapa astral
fui seguindo linhas tortas

e pelas ruas estreitas, fui parar na marginal
marginalizada, encontrei-me num belo baixo astral
fluindo com a corrente

acorrentada, mais uma sobrevivente
numa condição ilegal

naquele mar sem fim, contava as estrelas
tomando cuidado para não apontá-las

e desapontada fiquei ali
esperando a onda certa
me levar até o final
Estava na corda bamba
milimetrava meus passos
descalça, sentia tontura por caminhar tão no alto
Nem um guarda-chuva pra me proteger
Daquela conversa que pretendia colocar os pingos nos is

Fiz malabarismos, testei o salto mortal
andei no globo da morte
e num pulo desconsertado, sem igual
caí na sua rede

foi sensacional
atmosfera
ventos a favor
mesmo sendo fera, procurava um amor

dentro de uma nebulosa, foi chegando todo prosa
e pedindo por favor
que eu não enrolasse mais e desse logo aquele amor

depois de muito esforço, viu que aquela prosa não lembrava noel rosa
e descobriu que só a poesia convencia

resolveu fazer curso de rima
uma coisa muito fina
que o deixava no topo, bem lá em cima

mas parece que foi em vão
não criou ao menos um refrão
e nem com uma flecha pontuda acertou meu coração
comi um osso de galinha
parti meu dente ao meio
um devaneio
me fez esquecer a dor
me fez esquecer quem sou
deu até pena de mim

parti o bolo de morango
o comi feito um orangotango
dancei feliz um tango
com um argentino na tv

andei de bicicleta
pedalei em linha reta
seguindo aquela seta
que apontava pra você

depois de muito sono
acordei de um estranho sonho
que me fez enlouquecer

era muito louco
e pouco a pouco
eu fui vendo acontecer

dei o sinal no ônibus
no primeiro ponto foi que eu pedi para descer

e ali bem na esquina
é que eu pude reconhecer
o seu jeito
o seu olhar
o seu caminhar
que nem mesmo o tempo fez envelhecer

era eu ali, de novo
toda sua
tomando tubaína
lembrando os tempos de menina
e olhando pra você.
carambolas!
há tanto tempo tenho saído de mim
e voltado pra você
assim meio sem jeito
mas fazer o quê?

é o máximo que consigo
não vou fingir pra você

tento fugir
mas é quase impossível te esquecer
você faz o que gosta
goza de mim
mas fazer o quê?

é sempre um martírio
do principio ao fim
você gosta de me ver sofrer

tenho tentado
fazer tudo calado
me esquivado desse seu jeito de ser

mas fazer o que,
se sou fraco demais pra viver sem você?

Acabou

Olha, é tanta confusão
Tanta gente me olhando

Olha, nem a minha imaginação
Faz eu esquecer porque estou chorando

Neste momento, só queria ficar só
Com meus pensamentos

Você já me perturbou demais, rapaz
E se não for embora
Eu sei que será capaz de fazer muito mais

Olha, eu não quero você não
Já estava virando um tormento

Olha, sai já do meu coração
E acaba logo com todo esse sofrimento

Bifásico

Minha tecnologia é de ponta
De ponta-cabeça
Meus eletrodos
São todos elétricos
Vibrantes numa corrente só
O fio encapado esconde o melhor
Cobre todo de zinco o barracão
Onde curto a vida
Num circuito frenético
Fanático
Eletrostático
Em que ondas sonoras
Ultrapassam os decibéis

No final me plugo na tomada
Para carregar a bateria
E encho o copo para ser o que eu queria

Angústia

Estou tentando escapar
Andando de um lado para o outro
Não encontro saída

Uma janela pequena
Uma fresta por onde a luz do sol entra
Me aquece um pouco

Procuro a saída
Por cada buraco na parede
Por cada fechadura

No canto úmido me sento
Penso um pouco
Mas a mente está vazia
Não entra nada, nem escapa
Tudo parado lá dentro

Quando uma nuvem passa no céu
A luz do sol desaparece

Não ouço nada
Sinto menos ainda
Meu estômago reclama
Mas não ligo
Não ligo uma coisa à outra
Aquela fome faz parte de mim

Além do meu estômago
Eu também ronco
Quando consigo pregar os olhos
O silêncio é tanto
Que acordo com medo

Meus cabelos caem
Já não tenho cabelos

À meia noite ninguém levará minha alma
Já não tenho alma
À meia noite minha vida não me levará a nada

Estou tentando escapar
De mim mesmo

Mas estou preso
E vou ficar aqui
Me consumindo
Matando minha fome
E calando a boca do meu estômago
Que ronca sem parar

Esqueci
Quem eu era
Não sou mais
Aquela
Que olhava pra trás

Acordei na primavera
Vendo tudo florido
Não sabendo se aquilo era futuro, passado ou um presente embrulhado num laço de fita
Não sentia o perfume

Mirava de longe um cardume
De peixes palhaços
que desciam a correnteza
atrasados para a estréia do picadeiro
protegido por dentes de leão
que viviam ao sabor dos ventos

Pelo meio do caminho
Ainda me deparei com um pergaminho
Numa garrafa de vinho
Bêbado, velho e decadente
Ele também viajara contra a corrente
E parou nos meus pés
Descalços, gelados, com calos, calados

Sorri contente
Preparei um vinho quente
Que esquentou meus pés
Assim pude, preparada, rir das palhaçadas
Feitas por aqueles peixes bicudos, que assustavam a criançada

Por fim, ganhei carona com os dentes de leão
Voei feito abelha-rainha
Então aí, caí do colchão


Virgi Maria Nossa Senhora de Pirapora
Vam’bora
Não dá pra esperar
Passa lá em casa antes do sol raiar

Vem depressa, rápido, aperta o passo
Dá cá um abraço e pára de resmungar
Tem um lugar só nosso guardado pra a gente
É logo ali na frente

Pronto, chegou.
É aqui
Dá um beijo logo

***

Depois acabou
E um gostinho aflito foi o que restou

Mas já tá bom, ele também brincou.

Referências

Um dia, assistindo a uma entrevista com o Paulo Autran, me deparei com a seguinte definição do que é Cinema, Teatro e a TV.

" O cinema é a arte do diretor, o teatro é a arte do ator e a TV é a arte do patrocinador"

Não sei se o autor é outro, mas achei bem bacana.


Ah, e ontem, zapeando pela TV parei num programa da Cultura chamado Móbile...muito legal, é um programa com várias esquetes que não se relacionam, tem música, teatro, poesia, dança, performance, tudo meio ao estilo "Ensaio". Gostei.

é isso, por hoje é isso

Samba bom

Que vontade de sambar
De girar no meio de todos
Sentindo o pandeiro vibrar

Que vontade de sambar
De entrar na roda e ficar lá
Até alguém me puxar

Que vontade de sambar
De me sentir livre
Pra errar o passo e ninguém reparar

Que vontade de dançar
Sorrir muito
Fechar os olhos e sonhar

Imaginar que sou estrela
Que posso brilhar

Eu posso brilhar

Citação

Eu também queria que fosse assim. Mas como não é, eu deixo pra comer o doce sempre no final. É a melhor parte.

“A coisa mais injusta sobre a vida é como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo, ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante para poder aproveitar a sua aposentadoria. Aí curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando, e termina tudo num grande orgasmo. Não seria perfeito?”.

(Charles Chaplin)

Encaixa

Castiga
Castiga mesmo
Pisa
Pisa bastante
Acaba comigo
É humilhante
Me trata mal
Esquece de mim
E quando quer de volta
Só aponta
E eu volto
Com o rabo entre as pernas
E a cabeça baixa

Sabe por que faço isso?
Porque na hora do amor a gente se encaixa.

desabafo

tenho tido pouco tempo e pouca disposição para encontrar rimas e publicar novos posts.
os pensamentos estão soltos e dispersos por aí, não consigo transformá-los numa coisa interessante de ser lida, ou pelo menos escrita.
o tcc está no fim e agora posso ver a luz no fim do túnel, mesmo que isso pareça clichê. Muitos já devem ter visto essa tal de luz nesse tal de túnel. Falta apenas um mês para o gran finale, estou muito ansiosa e cada dia mais leve. Foi bom enquanto durou, mas já chega né, já tá bom.

enquanto isso...

Tenho falado muito sozinha.
Tenho prestado mais atenção nos detalhes, nas sensações. Apenas os cheiros ainda me escapam, tenho uma certa dificuldade de sentir cheiro.
Tenho me decepcionado.
Tenho me divertido.
Não tenho lido.
Tenho dormido muito.
Tenho fugido do que sinto.
Tenho aproveitado, na medida do possível.
Tenho falado muito.
Tenho falado pouco.

E vou viajando nos meus pensamentos, soltos, embaraçados como meus cabelos encaracolados.

Meu camelo

Meu camelo tem 2 corcovas
Um dia levei meu camelo ao Corcovado
Depois que chegou no topo
Meu camelo foi parar na cova
Me chamaram de louca
Então eu disse: louca uma ova!
De quinta categoria
De quinta eu te queria
De quinta era que eu via
Você

Foi na quinta vez
Que você me fez
Feliz de vez

Zig-zag

Tentei passar pelo buraco da agulha
Tentei perder a linha
Andei em zig-zag

Queria que sua porta tivesse um fecho de zíper
Pra abrir quando quiser

E morar numa casa de algodão
Ou quem sabe em Butão

Queria ter olhos de strass
Sardas de miçangas

Boca de lingerie vermelha, rendada

Pra perder a linha
Desfiar em zig-zag
Costurar uma vida, desalinhada
Caminho apressado
Pé ante pé
Desfigurado
Beco
Com saída
Estreita
Sufoco
Inspiro todo ar que consigo
Murcho a barriga
E de costas para o muro
Atravesso

Caminho apressado
Passos largos
Beco estreito

É de costas que durmo
Com aquela que sempre me deito
Já fui fera um dia
Minha marca era a rebeldia
Quebrei tudo
Enfrentei todos
Todos os medos
Fui atrás dos meus desejos
Lutei com leões
Falei o que quis
Escutei o que nem todo mundo diz

Fui feliz
Bem engraçada aquela menina
Bem devagar

Divagando
E vagando por aí

Ela tem um laço vermelho enrolado no pescoço
Ela tem unhas vermelhas
Ela tem a cara vermelha

Ela tem um coração

Que muda de cor
Dependendo do humor
cachaça paia paio bituca chinelo veio pé cansado mio cozido fubá pra cume azeite de dendê cachimbo fumo de corda cabra da peste já arriado cavalo sem arreio carro de boi sem freio virgi maria nossa senhora crê em deus pai cícero de cada dia todo dia cinco da manhã junto com galo galinha e calo na mão que não é lisinha.

Casa da sogra

A casa da sogra é ilhada
Cercada de línguas por todos os lados
Sedentas
Vermelhas
Nojentas e ciumentas

Non sense

Quero parar de fazer amor com a bicicleta
Quero parar de conversar no corredor e deixar a porta entreaberta

Vou parar de falar com o copo gelado
Quero parar de escrever tudo errado

Vou desligar o meu cérebro, o guardarei bem dentro do armário
E voltarei a ser que nem eu era, lá no primário
Infelizmente não aceitamos troca. É isso mesmo senhor. Já se passaram 30 dias da aquisição. São as normas da empresa. Me desculpe, infelizmente não posso ajudar. 30 dias são 30 dias. Não são 29 e nem 31, passaram-se 30 dias e pronto. Mil desculpas, mas infelizmente não podemos fazer nada.

...

O senhor não quer dar uma olhada em outra peça? Temos vários modelos em promoção.

...

Não. Não, senhor. Se não podemos efetuar a troca, podemos muito menos devolver o dinheiro. É impossível.

...

Não, o gerente não se encontra no momento. Ele não poderá solucionar a sua questão.

...

Eu já disse: trocas após 30 dias são impossíveis. Pode ler no código de defesa do consumidor. Quer ver? Eu tenho ele aqui.

...

Senhor, já leu? Sinto muito, mas a loja vai fechar.

O verdadeiro Galo da Madrugada

Ah, e não poderia deixar de comentar, fazer um desabafo, protestar, enfim, divulgar meu descontentamento com um vizinho meu.
Olha, sem muitas delongas, o tal do vizinho é um Galo, um Galo que não pára de cantar. Ele não canta, ele esperneia, pragueja o cacarejar por todos os cantos dos meus ouvidos, tímpano e todo meu aparelho auditivo.

A história é a seguinte:

O meu quarto fica virado para os fundos da minha casa que é um sobrado. Nele, ao invés de uma janela tem uma porta, grande, que dá para a sacada, isso por si só já faz com que os sons emitidos na parte de fora entrem com mais facilidade, mas até aí eu estou acostumada.
Bom, meu querido vizinho morava numa casa na rua de baixo e convivia com outros galináceos, provavelmente os membros da família. Sendo assim ele era um penoso feliz e cantava só às vezes, isso não me incomodava tanto, pois gosto dos sons da natureza, admiro com todo o meu coração. Mas o pior estava por vir. Depois das festas de fim de ano, eu suponho que o querido tenha ficado mais empolgado, ou talvez ele tenha visto um sabiá gigante voando por aí e puf! caiu no quintal do vizinho que fica bem ao lado do meu quarto, grudadinho. Nesse quintal o penoso se deparou com o bonitão do Poli, um fila brasileiro pretão, lindo...mas, com perdão do trocadalho, o Poli é mole...e virou amigo daquele bicho de penas, parceirão. Os dias foram se passando e o bicho descontrolou, começou a gritar de uma tal maneira, a todo o momento, à tarde, de magrugada, às 10 da manhã, às 10 da noite, sempre, freneticamente, sem parar. E não é um cacarejar comum é um grito de sofrimento, de dor, de solidão, afinal ele foi separado da família, por um infortúnio do destino. Ok, eu tenho dó do bichinho, mas ele não tem o mínimo de dó de mim, há vários dias não consigo dormir direito. Nos fins de semana sou acordada por uma sinfonia bagunçada às 6 da manhã. Ninguém merece.
Outro dia eu comecei a prestar atenção na gritaria, e bem ao fundo comecei a ouvir outros cacarejos, distantes. Eles cacarejavam de lá e o galináceo macho esperneava daqui. Eles estavam conversando, matando a saudade...que dó, meu Deus! Agora acho que o bichinho vai morrer de solidão, de melancolia, de banzo, como diziam os antigos. E o dono bicho-homem dele, aquele desnaturado não faz nada pra resgatar o coitado.

Eu exijo o resgate do Galo, pra eu poder resgatar o meu sono perdido.

Obrigada.
comer com talher dá uma preguiça
queria mesmo era ficar aqui passando o tempo e enchendo lingüiça

comer com colher é um pouco melhor
mas aí a comida tem que vir batida
senão fica ruim de comer

eu queria mesmo era que inventassem uma máquina nova
uma que enchesse a barriga
sem nem a gente perceber

e quando a gente menos esperasse a criança ia crescer
crescer bem satisfeita
sem ter que pedir pra ninguém reabastecer

esse é um sonho meio distante,
ruim de acontecer
uma música vem aqui na minha cabeça
um imagem passa aqui diante dos olhos
e um perfume doce entra pelas minhas narinas

isso tudo me castiga
porque nunca pára
isso me consome
porque ouço, vejo, sinto e tão rápido você some
faz tempo que não publico nada
faz tempo que não implico
nos últimos tempos só replico, triplico
mas ninguém vê
em silêncio, suplico
suplico não sei o que

acho que estou confusa
confusa comigo mesmo
se me entendo, logo, leva pouco tempo

é uma angústia que bate, bem dentro de mim
aí suplico de novo, suplico até o fim

Pequeno Plágio

Ai que saudades que tenho da Aurora,
Aquela vizinha

Eu sei, os tempos não voltam mais.

Na minha infância querida
O que eu queria mesmo era ficar
Com Aurora, aquela vizinha
Ancas largas
Saia rodada
Sandália rasgada

Mas sei, os tempos não voltam mais.

Aqui, destroçado
Arruinado
Desarrumado
O que me resta são as lembranças
De um tempo que não volta mais
Lembranças da Aurora
Lembranças de outrora

Que os tempos, certamente, não trazem mais

Pelas costas

Com um nó na garganta eu prendo meu choro O seu nó na gravata eu já não dou mais De tristeza, retorce meu estômago Por que você torce co...