Eu sou uma pergunta

Eu sou uma pergunta
E quem não é?
Eu sou milhares de perguntas
E nem sempre com milhares de respostas

Para que respostas?
Para ter mais dúvidas?
Para esclarecer
o que nem sempre é bom de aparecer?

Eu sou uma pergunta
Eu sou toda pontuação
Com erros de gramática
matemática
fonética
com fórmulas atômicas
com formas atônitas

Sou outros tantos sinônimos
interfaceando os outros tantos antônimos

Eu sou uma pergunta
Sou figura geométrica
De linguagem
Capaz de falar bobagem

As vezes eu sou resposta
para perguntas que não foram feitas
e nem sempre deixam
as pessoas satisfeitas

As vezes eu sou nó
Difícil de desfazer
As vezes não tenho nexo
As vezes só tenho sentidos
Só tenho sentido
Só sinto

Sinto
que
sou uma pergunta

Não reverberou.

Mais de onze da noite. Uma noite agradável, nem frio, nem calor. O dia havia sido intenso. Acordar cedo, se arrumar correndo, tomar um café quase sem açúcar, espantar o cachorro para que saísse da frente, deixar o jornal largado no meio do quintal. Chegar ofegante no ponto do ônibus e não conseguir alcançar o último que acabou de sair. Começou assim meu dia.
Chego ao trabalho cansada, suada, com a garganta seca. Ligo o computador, senha, senha e senha. Leio meus e-mails. Enlarge your pennis. Emagreça dormindo. Ganhe dinheiro sem sair de casa. Urgente! Atendo o cliente ao telefone. Não entendo o que ele fala. Desligo. Respiro um pouco. E tento começar tudo outra vez. Já está na hora da pausa para o café.
Alguns trabalhos para fazer, coisas simples. Converso um pouco, penso no namorado, olho para o celular, nenhuma ligação ou mensagem. Almoço. Ufa! Posso ver a luz do sol. Como é bom.
Stress novamente, fila para o almoço. Mais de 20 minutos para colocar um brócolis no prato. Peso. Sento e como. Fila para pagar. Saio. Agora posso sentir o calor do sol novamente. Como é bom.
À tarde, as coisas fluem melhor. A agitação é maior. Trabalhos fáceis. Tudo em ordem.
6 da tarde. Desligo o computador. Escovo os dentes, olho para o relógio da parede. Organizo a mesa e saio correndo. Tchau, tchau e tchau. Até amanhã. Encontro minha carona. Vou para a segunda etapa.
Trânsito. As luzes vermelhas dos faróis me lembram o Natal. Efeito fantástico. Converso. Durmo. Penso sobre o que eu não fiz. Relaxo um pouco.
7 horas. Aula. Amigos. Besteiras. Bar. Aula.
Meus olhos não respondem mais aos meus sinais. Eles se fecham, se fecham e tornam a abrir.
11 horas. Corro para o ponto de ônibus. Buzina. Cuidado menina! Entro e o caminho é mais rápido.
11:15. Chego. Subo correndo as escadas. Desvio de todos. Não enxergo ninguém. Catraca. Desço a escada rolante. Corro. Para o início da plataforma. Espero. Ofegante.
11:20. Espero atrás da linha amarela. Vem vindo. Todos dão um passo para trás. Menos um.
Buzina. Buzina. Buzina. O tempo congela, como uma imagem em um filme de suspense.
Então, descongelou. O gongo bateu na lateral da locomotiva e nenhum passageiro arriscou um pio.
Um gongo seco, que não reverberou. Só paralisou. Antes do gongo, o último grito. Faróis bem acesos. Não adiantou. Todos atônitos. Homens, mulheres, jovens e velhos. Ninguém acreditou.
Foi o barulho mais desolador que já ouvi. Frio na barriga, coração apertado e nada mais a fazer.
Depois de minutos, outra locomotiva chega na plataforma ao lado. Entramos. Todos continuam calados. Velando durante o percurso, num ritmo mais lento.
Num ritmo mais lento, chego. Ao descer tomo cuidado. Silêncio. Rua deserta. E o último grito vai me seguindo. Num ritmo mais lento. Num ritmo mais lento, chego. Agora estou em casa. Durmo ouvindo os sons. A buzina, o grito, o gongo. E sonho. Num ritmo mais lento.

Cores

verde
ver de verdade
o verdejante azul
do céu
do dia
do dia claro
sem nuvens
o
verde
de mata
atlântica
amazônica
mata
toda morta
que derrama
o vermelho
do sangue
da terra roxa
sem verde

Cores

azul dos teus olhos
não me vêem melhor
quando estão perto

vermelho de meu sangue que
pulsa
rápido
quando te vejo
escorre como um rio cheio de vida

amarelo
como o sol
quente
nos encobre
e me queima

branco
das ralas nuvens no céu azul
que têm a mesma cor
dos teus olhos azuis cor de céu
que não serão meus

Vertigem

Roda
Rodopia
Gira e Roda
Alegria

Sobe
Desce-Sobe
É só Magia

Canta
Pula e Canta
Contagia
Passaram-me a mão
Passaram-me a perna
Deixaram-me no chão
Em frente a uma taberna

Não era ilusão
Jogado ali
Endureceu meu coração

A esta hora da noite
Já não há nada a fazer
Prefiro escutar o silêncio
Para que eu possa morrer

Pelas costas

Com um nó na garganta eu prendo meu choro O seu nó na gravata eu já não dou mais De tristeza, retorce meu estômago Por que você torce co...